11/05/2009

A Chuva!

Sabe sempre bem quando chega o inverno!
Palermice, diriam muitos.
Afinal, qual o interesse em que o tempo esteja frio? Em que venha a chuva estragar os planos de fim-de-semana? Com o frio nem há vontade para ir trabalhar!
Mas o certo é que ele entusiasmava-se sempre que abria a janela e via o vidro embaciado, sempre que conseguia escrever na humidade. À noite, o seu maior prazer era sentir o corpo quente debaixo dos lençóis, enquanto sentia, na cara, o frio que havia no quarto.
A chuva também não o incomodava muito. Ia onde tinha de ir, quer chovesse ou não!
Hoje chove.
Dir-se-ia que chove "a potes", mas ele não está incomodado. Anda. Anda de vagar, como que para sentir a chuva sobre o corpo, como se quisesse que a sua alma tivesse todo o tempo que precisasse para se lavar à vontade. Porque nunca é só o corpo que precisa de ser lavado.
Daqui a algum tempo também haverá remédios para males de alma, com slogans do género: “Já tratou da sua alma, hoje?”. A tecnologia tem tido grandes avanços, quem sabe se os próximos não serão sobre os males da alma?
Mas a este homem, que caminha pela rua no meio da chuva, não lhe interessam os possíveis avanços tecnológicos relativos à alma. Para ele não há melhor remédio que caminhar à chuva, “Pena que não chova sempre que a gente quer” diz ele, sempre que precisa de tempo para si, tempo para estar com ele mesmo e para poder lavar a alma.
Está um frio de rachar, já mal sente os ossos, aliás sente-os tanto que não os sente. Vá se lá compreender o que estas pessoas estranhas sentem … relativisses é o que é.
A sua casa ainda fica a um quilómetro, e ele continua a andar, sempre de vagar, sempre à mesma cadência. Leva o mp4 ligado, com um alto volume para que, de fora não se oiça mais que o barulho da chuva.
Isto de lavar a alma e acalmar o espírito tem as suas manias. E não se pense que é qualquer tipo de música que está apto a servir de música de fundo a este cenário. Este homem ouve Metal! Nem mais leve nem mais pesado. Metal! Porquê? Ora porque, fá-lo sentir toda a força da voz e dos instrumentos.
Os seus pensamentos são escritos ao veloz ritmo daquela música, e ele ouvia para não pensar. O ser humano tem destas manias de se querer esconder de si mesmo, mais sabendo ele que a verdade é aquela, nem mais real, nem mais imaginária. Não há nada a fazer por muito que não se pense pensando.
A sua casa está cada vez mais próxima, ele anda cada vez mais de vagar e só ele sabe porque é que não tem pressa em chegar… Talvez queira gozar mais desta deliciosa chuva que já o ensopou, talvez não tenha vontade em secar-se ou talvez queira adiar qualquer coisa, qualquer coisa inadiável. Mas aí já estamos nós a querer ver para além do que é da nossa conta.
Talvez para a próxima!